quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Engenheiros: um problema de longo prazo



Antes de começar o post, gostaria de deixar claro que todo homem é livre e tem o direito de dispor da forma que quiser da sua vida (desde que respeitando as leis e costumes). O Estado, em hipótese nenhuma, deve obrigar um indivíduo de boa fé a realizar qualquer tipo de ato contra a sua vontade.

Dito isso, fico mais confortável para escrever sobre o problema da mão de obra dos engenheiros no Brasil. Observo dois graves entraves. O primeiro é a insuficiência de engenheiros formados anualmente. O número é de aproximadamente 30 mil, segundo dados do INEP. A título de comparação, a Rússia forma 120 mil, a Índia, 200 mil, e a China, 300 mil. O Brasil está num patamar abaixo em relação aos demais países do Bric. Considerando-se a vital importância dos engenheiros para o crescimento da economia a longo prazo (de acordo com as mais recentes teorias de crescimento endógeno), é preocupante a dificuldade do Brasil de repor as aposentadorias e, o que é pior, de suportar expansões futuras. O segundo problema é o desvio de função de engenheiros já estabelecidos. Não são raras as histórias de engenheiros que abandonaram a profissão para trabalhar em áreas diversas. Nos anos 80 e 90, observou-se uma crescente migração de engenheiros para o setor financeiro. Bancos e demais instituições financeiras passaram a oferecer vultuosos salários, seduzindo-os e retirando-os de sua área tradicional. Mais recentemente, graças ao governo Lula, ocorre o fenômeno do serviço público. Um número assustador de engenheiros tem desistido da função para trabalhar na Administração Pública em atividades burocráticas e estéreis.

Quanto ao primeiro problema, o professor Roberto Leal Lobo e Silva Filho sugeriu, em artigo na Folha de São Paulo, uma solução: incentivo à formação de engenheiros no setor privado, por meio de compra de vagas em bons cursos, desoneração das Instituições de Ensino Superior e dos estudantes. Acrescento bolsas (semelhantes às de iniciação científica) a todos os graduandos em engenharia e prêmios aos melhores alunos. Mais importante, a questão da informação não deve ser ignorada: palestras sobre a engenharia deveriam ser ministradas regularmente nas escolas.

Já em relação ao segundo entrave, a questão é espinhosa. Devido à política de apadrinhamento do funcionalismo público adotada pelo PT, os vencimentos dos cargos da Administração Pública atingiram níveis completamente irreais. Ignorando o movimento natural do mercado de trabalho, o PT definiu remunerações altíssimas, em total dissonância com o ponto de equilíbrio da demanda e oferta. Um exemplo é o subsídio inicial de um auditor da Receita Federal. Em pouco mais de 7 anos, tal valor teve um aumento estratosférico, chegando a quase 13 mil reais. Enquanto isso, o piso salarial de um engenheiro recém-formado é pouco mais de 4 mil reais. Tal fato provoca uma grave distorção na economia. Cada vez menos engenheiros sentem-se estimulados a exercer a profissão, migrando para o setor público, que oferece boas remunerações, mas trabalhos improdutivos e excessivamente burocráticos. O resultado é uma economia com um número cada vez menor de mão de obra qualificada, o que limita o desenvolvimento do país a longo prazo. O que o Estado deve fazer? Proibir que engenheiros façam concurso? É óbvio que não. A primeira ação é acabar com a ilusão de rendimentos supervalorizados do funcionarismo público, barrando reajustes e cortando gratificações. Tais valores não são sustentáveis no médio prazo: as contas públicas não suportam gastos crescentes em áreas improdutivas por muito tempo, como as despesas com pessoal. Eticamente e socialmente, não são justos esses gastos. A segunda ação é incentivar o mercado de trabalho do engenheiro. As empresas devem ter um ambiente propício para uma livre competição, com uma legislação clara, um sistema tributário racional e eficiente e um funcionamento pleno das instituições econômicas (como os bancos comerciais, as agências reguladoras e o mercado de capitais). Em especial, o Estado deve procurar uma forma de diminuir as contribuições trabalhistas (com a preocupação de conter o déficit previdenciário). Dessa forma, o mercado será capaz de pagar salários mais atrativos aos engenheiros e o setor público não oferecerá remunerações tão desequilibradas.

A questão dos engenheiros no Brasil não será resolvida do dia para a noite. É de suma importância que haja medidas radicais e reformas profundas para que o problema possa ser combatido. Caso contrário, o desenvolvimento do país ficará gravemente comprometido. O governo Lula está disposto a levar o Brasil a um crescimento sustentável e durável? Pelos últimos 7 anos, é difícil acreditar que sim. Suas atitudes, especialmente em relação aos engenheiros, contradizem o seu discurso demagógico e populista.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Uma crítica aos jornalistas
















Um estimado professor uma vez definiu o jornalista econômico: "aquele que apenas vê os fatos, mas não entende de que forma funciona o sistema". A frase é perfeita. O indivíduo pode passar anos lendo índices financeiros, indicadores econômicos e outras estatísticas. Porém, sem uma base teórica por trás, nunca será capaz de realizar uma análise independente de uma opinião mais precisa. Vejamos o caso da Miriam Leitão. É uma jornalista competente, que lê e entende as estatísticas econômicas. A despeito disso, em seus textos, ela sempre procura a ajuda de economistas para embasar suas ideias. Ela não o faz por mera conveniência: é a necessidade. Décadas como uma jornalista especializada em economia não criam um sólido alicerce teórico. Até que haja alguma grande revolução, livros e salas de aula não podem ser substituídos.

O preâmbulo que acabei de escrever tem como motivação a manchete do caderno de economia do jornal "O Globo" do dia 21 de janeiro de 2010. Na reportagem, as jornalistas Martha Beck e Vivian Oswald, devido à completa falta de conhecimento econômico citada anteriormente, cometem um erro capital. Segundo o seu pensamento simplório, "para conter pressão de demanda, plano é reduzir tributos (...)".  Assim, as jornalistas, inocentemente, creem que a redução de carga tributária resulta em um alívio na inflação. Para uma criança de 10 anos que lê a reportagem, o raciocínio está OK: menos tributos, menos impacto nos preços. Porém (e é aí que entra a importância da teoria econômica), tal afirmação é um total ABSURDO, pois a redução de tributos é uma medida de expansão fiscal. Sendo assim, a demanda será estimulada e os preços ficarão ainda mais pressionados.

Para quem quiser ler (ou rir), colei parte da reportagem abaixo:


Governo se arma contra inflação
Publicada em 20/01/2010 às 23h50m
O Globo


BRASÍLIA - Apesar do discurso otimista, o governo está se armando para neutralizar pressões inflacionárias que possam comprometer o desempenho da economia em 2010. É o que mostra matéria de Martha Beck e Vivian Oswald, publicada nesta quinta-feira, no GLOBO. Serão usadas, por exemplo, ferramentas tributárias para equilibrar o efeito da demanda aquecida.


Para conter aumentos de preços, o governo tem na manga, a partir de simulações, a possibilidade de mexer nas alíquotas de tributos regulatórios, como a Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).


A ampliação da lista de itens que podem ser importados com alíquota zero também está no radar. A manutenção das alíquotas reduzidas de IPI nos produtos beneficiados por desoneração na esteira da crise - como linha branca, carros e móveis - é outra alternativa.


Leia mais: Meirelles:economia brasileira está na melhor posição já vista
Pelas contas da Fazenda, a economia tem condições de crescer 5,2% este ano dentro de um cenário em que a inflação fique no centro da meta, que é de 4,5%. Ainda assim, a ordem dentro do Ministério da Fazenda é agir a todo custo para não dar ao Banco Central (BC) motivos para elevar as taxas de juros e, com isso, puxar o freio de mão do crescimento este ano.


A preocupação do governo é que as expectativas de um aumento muito elevado no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) - alguns economistas falam até em mais de 6% - sejam vistas como uma expansão não sustentada, ou seja, que gera inflação.


Esse foi um dos temas da reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do BC, Henrique Meirelles.


Desde segunda-feira, quando voltou de férias, Mantega tem apresentado ao presidente as estimativas da equipe econômica para o crescimento em 2010, ressaltando que a Fazenda não vê risco de pressão inflacionária para o ano.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Petralhas querem imitar Hugo Chávez


Na semana passada, Chávez decidiu por uma megadesvalorização do bolivar forte e criou taxas de câmbio diferentes para cada tipo de produto. A notícia soa familiar? Para quem conhece a história econômica do Brasil, tais atos são meras repetições de um passado bisonho e maluco. Até pouco tempo atrás (em especial, na década perdida de de 1980), as crises do balanço de pagamento eram "tratadas" inutilmente por meio de maxidesvalorizações cambiais (que contribuíam apenas agravar o problema da inflação, já que nunca conseguiam ter efeito real). Já as múltiplas taxas de câmbio remetem ao governo de Vargas, que, por meio da Lei do Mercado Livre e da Instrução 70 da Sumoc, tentou manipular a taxa de câmbio de forma a estimular a economia e controlar a inflação. Inoportuno dizer que tal política foi um fracasso.

Posto isso, o que lemos nos jornais? Economistas petralhas defendendo uma taxa de câmbio "adequada" para as indústrias exportadoras. Para eles, Chávez é o exemplo a ser seguido. Infelizmente, eles se esquecem de que a economia pune os maus gestores. E para o azar deles (ou a nossa sorte), a história não se importa em delatá-los.

Chávez desvaloriza moeda em 100%

Presidente venezuelano cria dois tipos de câmbio para setores considerados prioritários e não prioritários

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou ontem uma importante reforma financeira que desvalorizou o bolívar forte, a moeda do país, e estabeleceu tipos de câmbio distintos para setores considerados prioritários - como alimentação, habitação, saúde e educação - e não prioritários.

O bolívar forte estava em 2,15 por dólar no câmbio oficial desde 2005. Para negócios que envolvam o setor prioritário, a cotação passou para 2,60 por dólar. Para itens não essenciais - como automóveis, tabaco, bebidas, telecomunicações, produtos químicos, petroquímicos e eletrônicos -, o bolívar será cotado a 4,30, uma desvalorização de 100%.

O câmbio na Venezuela é controlado pelo governo. O país adotou o sistema de câmbio fixo em 2003. Em janeiro de 2008, foram cortados três zeros da antiga moeda, o bolívar. Esta é a quarta desvalorização em sete anos.

Apesar de proibido e punido com pena de prisão e perda dos valores envolvidos, o câmbio paralelo chegou a pagar 7 bolívares fortes por dólar, aumentando os preços e a inflação no país. A simples divulgação da cotação da moeda no câmbio paralelo é considerada crime. Chávez disse que o Banco Central e o governo intervirão no mercado paralelo para evitar a especulação, mas não deu detalhes da estratégia. Chávez afirmou que o controle do câmbio chegou para ficar, pois "os dólares são para o povo e não para comprar carros e uísque".

O presidente informou que as novas taxas entrarão em vigor imediatamente e ressaltou que as as medidas buscam "dar novo impulso à economia produtiva, conter as importações que não são estritamente necessárias e estimular a política de exportação". Após quase cinco anos de crescimento contínuo, a economia venezuelana enfrentou um forte retrocesso no ano passado ao registrar uma queda de 2,9% com relação a 2008.