sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Bolsa Atleta e o pensamento petista


Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas no horizonte azul de terras verde-amarelas, o botocudo governo petralha arma seus tentáculos para orgulhar a sua pobre plebe com sonhadas medalhas. Em meio a bolsas-famílias, vales-gás e luz para todos, o excelentíssimo presidente Lula cria mais uma cenoura de burro: o "Atleta Pódio". O produto funciona da seguinte forma: o esportista que cumprir todos os requisitos exigidos pelo governo recebe uma bolsa de até 15 mil reais por 4 anos renováveis. A ideia é tentar produzir grandes campeões mundiais para os próximos cliclos olímpicos.

O que mais chama a atenção da medida é o seu pedigree petista. A velha ideologia de que o Estado pode tudo e que todos os problemas têm de passar pela grande máquina petista está escancarada no Atleta Pódio. Décadas de ineficiência do esporte brasileiro podem ser resolvidas por simples canetadas de Brasília, pensam os guias deste país. O mecanismo é grosseiro e arrogante: bastam a vontade e o dinheiro público para que tudo se resolva.

É evidente a semelhança com o modelo ultrapassado e historicamente combalido de intervenção econômica  no Brasil. Como a política industrial, que há décadas jorra bilhões de reais em empréstimos e subsídios a empresas ineficientes e altamente dependentes do poder público, o Atleta Pódio desperdiça milhares de reais sem incentivar a competitividade e o resultado. Os atletas contemplados confortavelmente recebem a sua bolsa, tendo metas folgadas e pouca exigência. Como as principais competições ocorrem em longos períodos intercalados, o risco de acomodação é enorme e o controle, extremamente precário.

Mais que um simples programa esportivo, o Atleta Pódio é o idéario do infame Estado petista e do desastrado pensamento heterodoxo econômico. A cenoura está armada e espera que os burros corram atrás dela.     

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Engenheiros: um problema de longo prazo



Antes de começar o post, gostaria de deixar claro que todo homem é livre e tem o direito de dispor da forma que quiser da sua vida (desde que respeitando as leis e costumes). O Estado, em hipótese nenhuma, deve obrigar um indivíduo de boa fé a realizar qualquer tipo de ato contra a sua vontade.

Dito isso, fico mais confortável para escrever sobre o problema da mão de obra dos engenheiros no Brasil. Observo dois graves entraves. O primeiro é a insuficiência de engenheiros formados anualmente. O número é de aproximadamente 30 mil, segundo dados do INEP. A título de comparação, a Rússia forma 120 mil, a Índia, 200 mil, e a China, 300 mil. O Brasil está num patamar abaixo em relação aos demais países do Bric. Considerando-se a vital importância dos engenheiros para o crescimento da economia a longo prazo (de acordo com as mais recentes teorias de crescimento endógeno), é preocupante a dificuldade do Brasil de repor as aposentadorias e, o que é pior, de suportar expansões futuras. O segundo problema é o desvio de função de engenheiros já estabelecidos. Não são raras as histórias de engenheiros que abandonaram a profissão para trabalhar em áreas diversas. Nos anos 80 e 90, observou-se uma crescente migração de engenheiros para o setor financeiro. Bancos e demais instituições financeiras passaram a oferecer vultuosos salários, seduzindo-os e retirando-os de sua área tradicional. Mais recentemente, graças ao governo Lula, ocorre o fenômeno do serviço público. Um número assustador de engenheiros tem desistido da função para trabalhar na Administração Pública em atividades burocráticas e estéreis.

Quanto ao primeiro problema, o professor Roberto Leal Lobo e Silva Filho sugeriu, em artigo na Folha de São Paulo, uma solução: incentivo à formação de engenheiros no setor privado, por meio de compra de vagas em bons cursos, desoneração das Instituições de Ensino Superior e dos estudantes. Acrescento bolsas (semelhantes às de iniciação científica) a todos os graduandos em engenharia e prêmios aos melhores alunos. Mais importante, a questão da informação não deve ser ignorada: palestras sobre a engenharia deveriam ser ministradas regularmente nas escolas.

Já em relação ao segundo entrave, a questão é espinhosa. Devido à política de apadrinhamento do funcionalismo público adotada pelo PT, os vencimentos dos cargos da Administração Pública atingiram níveis completamente irreais. Ignorando o movimento natural do mercado de trabalho, o PT definiu remunerações altíssimas, em total dissonância com o ponto de equilíbrio da demanda e oferta. Um exemplo é o subsídio inicial de um auditor da Receita Federal. Em pouco mais de 7 anos, tal valor teve um aumento estratosférico, chegando a quase 13 mil reais. Enquanto isso, o piso salarial de um engenheiro recém-formado é pouco mais de 4 mil reais. Tal fato provoca uma grave distorção na economia. Cada vez menos engenheiros sentem-se estimulados a exercer a profissão, migrando para o setor público, que oferece boas remunerações, mas trabalhos improdutivos e excessivamente burocráticos. O resultado é uma economia com um número cada vez menor de mão de obra qualificada, o que limita o desenvolvimento do país a longo prazo. O que o Estado deve fazer? Proibir que engenheiros façam concurso? É óbvio que não. A primeira ação é acabar com a ilusão de rendimentos supervalorizados do funcionarismo público, barrando reajustes e cortando gratificações. Tais valores não são sustentáveis no médio prazo: as contas públicas não suportam gastos crescentes em áreas improdutivas por muito tempo, como as despesas com pessoal. Eticamente e socialmente, não são justos esses gastos. A segunda ação é incentivar o mercado de trabalho do engenheiro. As empresas devem ter um ambiente propício para uma livre competição, com uma legislação clara, um sistema tributário racional e eficiente e um funcionamento pleno das instituições econômicas (como os bancos comerciais, as agências reguladoras e o mercado de capitais). Em especial, o Estado deve procurar uma forma de diminuir as contribuições trabalhistas (com a preocupação de conter o déficit previdenciário). Dessa forma, o mercado será capaz de pagar salários mais atrativos aos engenheiros e o setor público não oferecerá remunerações tão desequilibradas.

A questão dos engenheiros no Brasil não será resolvida do dia para a noite. É de suma importância que haja medidas radicais e reformas profundas para que o problema possa ser combatido. Caso contrário, o desenvolvimento do país ficará gravemente comprometido. O governo Lula está disposto a levar o Brasil a um crescimento sustentável e durável? Pelos últimos 7 anos, é difícil acreditar que sim. Suas atitudes, especialmente em relação aos engenheiros, contradizem o seu discurso demagógico e populista.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Uma crítica aos jornalistas
















Um estimado professor uma vez definiu o jornalista econômico: "aquele que apenas vê os fatos, mas não entende de que forma funciona o sistema". A frase é perfeita. O indivíduo pode passar anos lendo índices financeiros, indicadores econômicos e outras estatísticas. Porém, sem uma base teórica por trás, nunca será capaz de realizar uma análise independente de uma opinião mais precisa. Vejamos o caso da Miriam Leitão. É uma jornalista competente, que lê e entende as estatísticas econômicas. A despeito disso, em seus textos, ela sempre procura a ajuda de economistas para embasar suas ideias. Ela não o faz por mera conveniência: é a necessidade. Décadas como uma jornalista especializada em economia não criam um sólido alicerce teórico. Até que haja alguma grande revolução, livros e salas de aula não podem ser substituídos.

O preâmbulo que acabei de escrever tem como motivação a manchete do caderno de economia do jornal "O Globo" do dia 21 de janeiro de 2010. Na reportagem, as jornalistas Martha Beck e Vivian Oswald, devido à completa falta de conhecimento econômico citada anteriormente, cometem um erro capital. Segundo o seu pensamento simplório, "para conter pressão de demanda, plano é reduzir tributos (...)".  Assim, as jornalistas, inocentemente, creem que a redução de carga tributária resulta em um alívio na inflação. Para uma criança de 10 anos que lê a reportagem, o raciocínio está OK: menos tributos, menos impacto nos preços. Porém (e é aí que entra a importância da teoria econômica), tal afirmação é um total ABSURDO, pois a redução de tributos é uma medida de expansão fiscal. Sendo assim, a demanda será estimulada e os preços ficarão ainda mais pressionados.

Para quem quiser ler (ou rir), colei parte da reportagem abaixo:


Governo se arma contra inflação
Publicada em 20/01/2010 às 23h50m
O Globo


BRASÍLIA - Apesar do discurso otimista, o governo está se armando para neutralizar pressões inflacionárias que possam comprometer o desempenho da economia em 2010. É o que mostra matéria de Martha Beck e Vivian Oswald, publicada nesta quinta-feira, no GLOBO. Serão usadas, por exemplo, ferramentas tributárias para equilibrar o efeito da demanda aquecida.


Para conter aumentos de preços, o governo tem na manga, a partir de simulações, a possibilidade de mexer nas alíquotas de tributos regulatórios, como a Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).


A ampliação da lista de itens que podem ser importados com alíquota zero também está no radar. A manutenção das alíquotas reduzidas de IPI nos produtos beneficiados por desoneração na esteira da crise - como linha branca, carros e móveis - é outra alternativa.


Leia mais: Meirelles:economia brasileira está na melhor posição já vista
Pelas contas da Fazenda, a economia tem condições de crescer 5,2% este ano dentro de um cenário em que a inflação fique no centro da meta, que é de 4,5%. Ainda assim, a ordem dentro do Ministério da Fazenda é agir a todo custo para não dar ao Banco Central (BC) motivos para elevar as taxas de juros e, com isso, puxar o freio de mão do crescimento este ano.


A preocupação do governo é que as expectativas de um aumento muito elevado no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) - alguns economistas falam até em mais de 6% - sejam vistas como uma expansão não sustentada, ou seja, que gera inflação.


Esse foi um dos temas da reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do BC, Henrique Meirelles.


Desde segunda-feira, quando voltou de férias, Mantega tem apresentado ao presidente as estimativas da equipe econômica para o crescimento em 2010, ressaltando que a Fazenda não vê risco de pressão inflacionária para o ano.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Petralhas querem imitar Hugo Chávez


Na semana passada, Chávez decidiu por uma megadesvalorização do bolivar forte e criou taxas de câmbio diferentes para cada tipo de produto. A notícia soa familiar? Para quem conhece a história econômica do Brasil, tais atos são meras repetições de um passado bisonho e maluco. Até pouco tempo atrás (em especial, na década perdida de de 1980), as crises do balanço de pagamento eram "tratadas" inutilmente por meio de maxidesvalorizações cambiais (que contribuíam apenas agravar o problema da inflação, já que nunca conseguiam ter efeito real). Já as múltiplas taxas de câmbio remetem ao governo de Vargas, que, por meio da Lei do Mercado Livre e da Instrução 70 da Sumoc, tentou manipular a taxa de câmbio de forma a estimular a economia e controlar a inflação. Inoportuno dizer que tal política foi um fracasso.

Posto isso, o que lemos nos jornais? Economistas petralhas defendendo uma taxa de câmbio "adequada" para as indústrias exportadoras. Para eles, Chávez é o exemplo a ser seguido. Infelizmente, eles se esquecem de que a economia pune os maus gestores. E para o azar deles (ou a nossa sorte), a história não se importa em delatá-los.

Chávez desvaloriza moeda em 100%

Presidente venezuelano cria dois tipos de câmbio para setores considerados prioritários e não prioritários

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou ontem uma importante reforma financeira que desvalorizou o bolívar forte, a moeda do país, e estabeleceu tipos de câmbio distintos para setores considerados prioritários - como alimentação, habitação, saúde e educação - e não prioritários.

O bolívar forte estava em 2,15 por dólar no câmbio oficial desde 2005. Para negócios que envolvam o setor prioritário, a cotação passou para 2,60 por dólar. Para itens não essenciais - como automóveis, tabaco, bebidas, telecomunicações, produtos químicos, petroquímicos e eletrônicos -, o bolívar será cotado a 4,30, uma desvalorização de 100%.

O câmbio na Venezuela é controlado pelo governo. O país adotou o sistema de câmbio fixo em 2003. Em janeiro de 2008, foram cortados três zeros da antiga moeda, o bolívar. Esta é a quarta desvalorização em sete anos.

Apesar de proibido e punido com pena de prisão e perda dos valores envolvidos, o câmbio paralelo chegou a pagar 7 bolívares fortes por dólar, aumentando os preços e a inflação no país. A simples divulgação da cotação da moeda no câmbio paralelo é considerada crime. Chávez disse que o Banco Central e o governo intervirão no mercado paralelo para evitar a especulação, mas não deu detalhes da estratégia. Chávez afirmou que o controle do câmbio chegou para ficar, pois "os dólares são para o povo e não para comprar carros e uísque".

O presidente informou que as novas taxas entrarão em vigor imediatamente e ressaltou que as as medidas buscam "dar novo impulso à economia produtiva, conter as importações que não são estritamente necessárias e estimular a política de exportação". Após quase cinco anos de crescimento contínuo, a economia venezuelana enfrentou um forte retrocesso no ano passado ao registrar uma queda de 2,9% com relação a 2008.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Inflação e câmbio, uma discussão que não deveria existir

O que vale mais: a população de um país ou um punhado de indústrias? Para petralhas como Guido Mantega, que defendem a manipulação cambial, o interesse do povo fica em segundo plano. A inflação (que, por décadas, violentou o bem-estar dos brasileiros) é um pequeno detalhe perto da "imensa" importância de um setor que representa pouco mais de uma unidade percentual do comércio mundial.

Quão frágil é uma indústria que depende do câmbio para sobreviver? É inteligente basear estratégias competitivas em variáveis exógenas? Alguns exportadores acham que sim. Ou eles não estariam choramingando por causa da valorização cambial. Culpar a taxa de câmbio pelo fracasso é negar a própria incompetência. E num país sério, a incompetência de um industrial é punida pela falência. No Brasil, infelizmente, os governos preferem tratá-la com esmolas do dinheiro público. Deu no JB de hoje:

Juros longe da unanimidade

A perspectiva de o governo elevar as taxas de juros em 2010 para conter a inflação traz o receio da enxurrada de capital estrangeiro no país e a sobrevalorização do real, que desestimula as exportações. Economistas abordam os prós e contras da medida.

Quando juros atraem estrangeiros

Perspectiva de alta da Selic em 2010 exige novas medidas para o câmbio

Adriana Diniz, Jornal do Brasil

RIO - A perspectiva de que o governo tenha que aumentar os juros em 2010, para conter uma possível aceleração da inflação, levanta uma questão também importante para a economia brasileira: como evitar a enxurrada de capital estrangeiro no mercado – já que os investimentos no Brasil ficariam mais atrativos com o aumento dos juros – e a consequente queda do dólar? Para alguns economistas, a valorização do real, acende temores a respeito de uma “desindustrialização” do país, já que o dólar barato desestimula as exportações. Para outros, no entanto, o mercado interno é maior e mais importante para a economia.

– Não dá para ter um mesmo volante para dois carros, em estradas diferentes. Ou o governo abandona o câmbio ou abandona a inflação. E controlar a inflação, ou seja, estabilizar a economia interna, é muito mais importante que incentivar as exportações, como mostra o histórico do país – explica o economista Antonio Carlos Porto Gonçalves, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, que acredita que a retirada das desonerações oferecidas pelo governo também seria uma saída para frear o consumo e estabilizar o mercado interno.

Para o professor de Estratégia Financeira, do Ibemec, Hélio França, além do fim dos incentivos fiscais, seria necessário que o governo reduzisse os gastos públicos e anunciasse um aumento mínimo dos juros. “A inflação está sendo pressionada pela alta demanda por bens de consumo e pelo volume de investimentos públicos. Para conter a inflação sem provocar a aumento da cotação do dólar, será necessário que o governo adote uma série de medidas e não simplesmente aumentar a taxa de juros”, explica o economista, que é contra outras medidas que vêm sendo adotadas pelo governo, sem resultado expressivo, como a tributação dos investimentos estrangeiros em renda variável e fixa no Brasil em 2% de IOF.

– O governo comprar dólares também seria uma medida inflacionária, portanto, não aconselhada num momento como esse. Não vai ser tarefa fácil (conter a inflação sem pressionar a queda do dólar).

Segundo o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, o dólar deve caminhar a níveis muito mais baixos com a melhora dos fundamentos da economia no longo prazo. O grau de investimento concedido nos últimos anos pelas principais agências de classificação de risco chancela as reformas realizadas pelo Brasil, que deve ver uma depreciação ainda maior do dólar caso a avaliação fique mais positiva no futuro.

– Taxas de câmbio e juros impensáveis hoje vão se manifestar no futuro – disse Franco, em seminário em São Paulo – É impossível imaginar que, ao deixar de ser o país campeão mundial de juros, a moeda brasileira não vá se fortalecer.

Já o economista Armando Castellar Pinheiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), se mostra otimista: “A expectativa é de que a necessidade de subir juros coincida com a diminuição da liquidez no exterior. Ninguém tem muita certeza de quando seria isso. Mas a diminuição da liquidez no exterior deve compensar um possível aumento na taxa de juros e minimizar as consequências para o câmbio brasileiro”.

Para Mário Faveret, professor da Faculdade de Ciências econômicas da UERJ, o governo brasileiro deveria ser menos conservador e mais transparente em relação à política de juros adotada.

– Se houver uma maior clareza de como o governo irá fixar a taxa de juros, o próprio mercado ajudaria estabelecer juros mais próximos do ideal – afirma o economista.

Com agências

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ainda sobre a taxa de câmbio


O professor da PUC, José Márcio Camargo, em artigo na IstoÉ, adiciona alguns argumentos ao meu post passado sobre a taxa de câmbio. Em especial, ele aborda o fato de que uma desvalorização cambial provoca um aumento da taxa de juros nominal (que é a taxa real + inflação), o que tende a reduzir os investimentos e o PIB potencial. Imperdível leitura:

Taxa de Câmbio e Bem-Estar Social

Após dois trimestres de queda, a economia brasileira retomou a trajetória de crescimento. O consumo das famílias e os gastos do governo foram os principais motores da retomada. Outros países estão em situação similar (Austrália, Noruega, Coreia, etc.), fazendo com que os Bancos Centrais destes países já comecem a aumentar os juros.

Crescimento maior e taxas de juros mais elevadas significam maior rendimento para os investidores. Com a expectativa de que os Bancos Centrais dos países desenvolvidos irão manter suas taxas de juros próximas a zero por um bom tempo, a busca por rentabilidade está fazendo com que os investidores (empresas e mercado financeiro) direcionem seus recursos para ativos dos países que estão saindo mais cedo da recessão. Como resultado, as moedas destes países, inclusive o real brasileiro, têm se valorizado nos últimos meses em relação ao dólar.

Valorização cambial diminui os preços dos produtos importados e dos produtos que competem com os importados. Produtos como alimentos, automóveis, geladeiras, fogões, máquinas e equipamentos, em suma, os produtos industriais e agrícolas, têm seus preços reduzidos. Preços menores geram aumento da renda real das famílias, diminui o custo e gera aumento do investimento.

Com a queda dos preços, os lucros das empresas produtoras destes bens e os salários de seus trabalhadores também caem, se não em termos absolutos, pelo menos em relação aos lucros e salários daqueles setores produtores de bens que não podem ser importados, como serviços e construção civil. Ou seja, a valorização melhora a situação relativa dos produtores de não comerciáveis (serviços e construção civil), que é a maioria, e piora a situação relativa dos produtores de comerciáveis (indústria e agricultura).

A valorização pode levar empresas que investem pouco e, portanto, não renovam seu estoque de capital e sua tecnologia a se tornar obsoletas. Para estas, a consequência é a falência. Se o número de empresas com estas características é muito grande, a valorização cambial pode levar a uma redução do potencial de crescimento da economia e a um aumento da taxa de desemprego. Mas note que este é o resultado de uma estrutura produtiva ineficiente e com baixa produtividade.

Fatores externos à empresa como infraestrutura inadequada, mão de obra pouco educada, impostos muito altos, excesso de burocracia, etc. aumentam o custo das empresas e são também importantes determinantes de sua capacidade de competir. Nestas condições, uma valorização cambial poderá levar mesmo empresas eficientes a fechar suas portas por falta de competitividade. Mas isto ocorre devido a um ambiente externo pouco amigável que gera ineficiência e baixa produtividade.

Ou seja, valorização cambial é um fator positivo para a economia. A solução para evitar que empresas e setores sejam prejudicados é mais investimento em capital físico e incorporação de novas tecnologias por parte das empresas. Além disso, investimento em capital humano (educação) e infraestrutura, carga tributária menor e reformas microeconômicas que tornem o ambiente externo mais amigável. Manter a taxa de câmbio artificialmente desvalorizada gera pressão inflacionária e aumento dos juros, reduz o incentivo a ganhos de produtividade e diminui os ganhos de bem-estar para a maior parte da sociedade. Melhorar a educação e retomar a agenda de reformas são fatores fundamentais para enfrentar a valorização da moeda.

José Márcio Camargo é professor do departamento de economia da PUC/Rio e economista da Opus Gestão de Recursos


terça-feira, 17 de novembro de 2009

A quem interessa a taxa de câmbio desvalorizada?


É justo uma população inteira custear o enriquecimento de uma parcela ínfima e privilegiada da sociedade? O ministro Mantega acha que sim, haja vista as suas reiteradas declarações de apoio ao setor exportador brasileiro.

A última pérola de Mantega mais parece uma piada contada em um pé-sujo: "Com um câmbio a R$ 2,60, nós venceríamos todos, venceríamos os chineses, a indústria coreana". Não obstante a linguagem inadequada, que mais parece a de um jogador viciado em cassinos, o ministro da Fazenda comete um erro gravíssimo para um estadista: o favorecimento a uma minoria em detrimento do bem-estar do resto da população. Uma taxa de câmbio desvalorizada aumenta o custo de vida interno e prejudica a importação de setores (principalmente as indústrias de mineração e construção civil) que dependem de serviços e insumos estrangeiros. Enquanto que a inflação resultante afeta milhões de pessoas, empregos são deixados de ser criados. É correto causar sérias distorções na economia em prol dos exportadores?

Mantega finaliza seu iluminado discurso afirmando que irá "tomar medidas para estimular a competitividade das exportações". Outro erro elementar. Mantega desconhece ou ignora o passado. Décadas de estímulos estatais para o setor exportador resultou em produtividade e competitividade? Muito pelo contrário. O setor exportador brasileiro se acomodou com subsídios e privilégios tributários e cambiais, não se desenvolvendo numa área autônoma e independente. O Brasil, em 2007, detinha pouco menos de 1,2% da fatia do comércio internacional. Os bilhões de reais investidos em diversos programas de estímulos à exportação levaram a um desempenho ridículo do setor. A competitividade, como indica a raiz da palavra, depende obviamente de competição. Só se atingirá a produtividade querida com o estímulo à livre concorrência, que obrigue as empresas exportadoras a atuarem com a escala correta, a eficiência necessária e a tecnologia adequada. O governo deve restringir-se a criar um ambiente de segurança jurídica e institucional, garantindo o pleno e correto funcionamento dos mercados. Igualmente importante é a abertura do mercado interno, de forma a promover maior competição com produtos do estrangeiro. Em suma, a atuação estatal tem de ser neutra, a fim de que o setor exportador possa ter liberdade e tranquilidade para atuar. Qualquer ato além disso, como muito bem mostra o passado do Brasil, leva a problemáticas distorções na economia.

Mantega, ao defender medidas discricionárias de apoio aos exportadores, tenta criar uma competitividade artificial, à base de carimbadas e canetadas. A triste verdade é que anos de estímulos ao setor só levaram a um fracasso solene. A competitividade só vem com a competição. Porém, para o ministro da Fazenda, é mais fácil fazer o conveniente: agradar o lobby dos exportadores.