quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Inflação e câmbio, uma discussão que não deveria existir

O que vale mais: a população de um país ou um punhado de indústrias? Para petralhas como Guido Mantega, que defendem a manipulação cambial, o interesse do povo fica em segundo plano. A inflação (que, por décadas, violentou o bem-estar dos brasileiros) é um pequeno detalhe perto da "imensa" importância de um setor que representa pouco mais de uma unidade percentual do comércio mundial.

Quão frágil é uma indústria que depende do câmbio para sobreviver? É inteligente basear estratégias competitivas em variáveis exógenas? Alguns exportadores acham que sim. Ou eles não estariam choramingando por causa da valorização cambial. Culpar a taxa de câmbio pelo fracasso é negar a própria incompetência. E num país sério, a incompetência de um industrial é punida pela falência. No Brasil, infelizmente, os governos preferem tratá-la com esmolas do dinheiro público. Deu no JB de hoje:

Juros longe da unanimidade

A perspectiva de o governo elevar as taxas de juros em 2010 para conter a inflação traz o receio da enxurrada de capital estrangeiro no país e a sobrevalorização do real, que desestimula as exportações. Economistas abordam os prós e contras da medida.

Quando juros atraem estrangeiros

Perspectiva de alta da Selic em 2010 exige novas medidas para o câmbio

Adriana Diniz, Jornal do Brasil

RIO - A perspectiva de que o governo tenha que aumentar os juros em 2010, para conter uma possível aceleração da inflação, levanta uma questão também importante para a economia brasileira: como evitar a enxurrada de capital estrangeiro no mercado – já que os investimentos no Brasil ficariam mais atrativos com o aumento dos juros – e a consequente queda do dólar? Para alguns economistas, a valorização do real, acende temores a respeito de uma “desindustrialização” do país, já que o dólar barato desestimula as exportações. Para outros, no entanto, o mercado interno é maior e mais importante para a economia.

– Não dá para ter um mesmo volante para dois carros, em estradas diferentes. Ou o governo abandona o câmbio ou abandona a inflação. E controlar a inflação, ou seja, estabilizar a economia interna, é muito mais importante que incentivar as exportações, como mostra o histórico do país – explica o economista Antonio Carlos Porto Gonçalves, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, que acredita que a retirada das desonerações oferecidas pelo governo também seria uma saída para frear o consumo e estabilizar o mercado interno.

Para o professor de Estratégia Financeira, do Ibemec, Hélio França, além do fim dos incentivos fiscais, seria necessário que o governo reduzisse os gastos públicos e anunciasse um aumento mínimo dos juros. “A inflação está sendo pressionada pela alta demanda por bens de consumo e pelo volume de investimentos públicos. Para conter a inflação sem provocar a aumento da cotação do dólar, será necessário que o governo adote uma série de medidas e não simplesmente aumentar a taxa de juros”, explica o economista, que é contra outras medidas que vêm sendo adotadas pelo governo, sem resultado expressivo, como a tributação dos investimentos estrangeiros em renda variável e fixa no Brasil em 2% de IOF.

– O governo comprar dólares também seria uma medida inflacionária, portanto, não aconselhada num momento como esse. Não vai ser tarefa fácil (conter a inflação sem pressionar a queda do dólar).

Segundo o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, o dólar deve caminhar a níveis muito mais baixos com a melhora dos fundamentos da economia no longo prazo. O grau de investimento concedido nos últimos anos pelas principais agências de classificação de risco chancela as reformas realizadas pelo Brasil, que deve ver uma depreciação ainda maior do dólar caso a avaliação fique mais positiva no futuro.

– Taxas de câmbio e juros impensáveis hoje vão se manifestar no futuro – disse Franco, em seminário em São Paulo – É impossível imaginar que, ao deixar de ser o país campeão mundial de juros, a moeda brasileira não vá se fortalecer.

Já o economista Armando Castellar Pinheiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), se mostra otimista: “A expectativa é de que a necessidade de subir juros coincida com a diminuição da liquidez no exterior. Ninguém tem muita certeza de quando seria isso. Mas a diminuição da liquidez no exterior deve compensar um possível aumento na taxa de juros e minimizar as consequências para o câmbio brasileiro”.

Para Mário Faveret, professor da Faculdade de Ciências econômicas da UERJ, o governo brasileiro deveria ser menos conservador e mais transparente em relação à política de juros adotada.

– Se houver uma maior clareza de como o governo irá fixar a taxa de juros, o próprio mercado ajudaria estabelecer juros mais próximos do ideal – afirma o economista.

Com agências

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