sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Bolsa Atleta e o pensamento petista
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Engenheiros: um problema de longo prazo
Antes de começar o post, gostaria de deixar claro que todo homem é livre e tem o direito de dispor da forma que quiser da sua vida (desde que respeitando as leis e costumes). O Estado, em hipótese nenhuma, deve obrigar um indivíduo de boa fé a realizar qualquer tipo de ato contra a sua vontade.
Dito isso, fico mais confortável para escrever sobre o problema da mão de obra dos engenheiros no Brasil. Observo dois graves entraves. O primeiro é a insuficiência de engenheiros formados anualmente. O número é de aproximadamente 30 mil, segundo dados do INEP. A título de comparação, a Rússia forma 120 mil, a Índia, 200 mil, e a China, 300 mil. O Brasil está num patamar abaixo em relação aos demais países do Bric. Considerando-se a vital importância dos engenheiros para o crescimento da economia a longo prazo (de acordo com as mais recentes teorias de crescimento endógeno), é preocupante a dificuldade do Brasil de repor as aposentadorias e, o que é pior, de suportar expansões futuras. O segundo problema é o desvio de função de engenheiros já estabelecidos. Não são raras as histórias de engenheiros que abandonaram a profissão para trabalhar em áreas diversas. Nos anos 80 e 90, observou-se uma crescente migração de engenheiros para o setor financeiro. Bancos e demais instituições financeiras passaram a oferecer vultuosos salários, seduzindo-os e retirando-os de sua área tradicional. Mais recentemente, graças ao governo Lula, ocorre o fenômeno do serviço público. Um número assustador de engenheiros tem desistido da função para trabalhar na Administração Pública em atividades burocráticas e estéreis.
Quanto ao primeiro problema, o professor Roberto Leal Lobo e Silva Filho sugeriu, em artigo na Folha de São Paulo, uma solução: incentivo à formação de engenheiros no setor privado, por meio de compra de vagas em bons cursos, desoneração das Instituições de Ensino Superior e dos estudantes. Acrescento bolsas (semelhantes às de iniciação científica) a todos os graduandos em engenharia e prêmios aos melhores alunos. Mais importante, a questão da informação não deve ser ignorada: palestras sobre a engenharia deveriam ser ministradas regularmente nas escolas.
Já em relação ao segundo entrave, a questão é espinhosa. Devido à política de apadrinhamento do funcionalismo público adotada pelo PT, os vencimentos dos cargos da Administração Pública atingiram níveis completamente irreais. Ignorando o movimento natural do mercado de trabalho, o PT definiu remunerações altíssimas, em total dissonância com o ponto de equilíbrio da demanda e oferta. Um exemplo é o subsídio inicial de um auditor da Receita Federal. Em pouco mais de 7 anos, tal valor teve um aumento estratosférico, chegando a quase 13 mil reais. Enquanto isso, o piso salarial de um engenheiro recém-formado é pouco mais de 4 mil reais. Tal fato provoca uma grave distorção na economia. Cada vez menos engenheiros sentem-se estimulados a exercer a profissão, migrando para o setor público, que oferece boas remunerações, mas trabalhos improdutivos e excessivamente burocráticos. O resultado é uma economia com um número cada vez menor de mão de obra qualificada, o que limita o desenvolvimento do país a longo prazo. O que o Estado deve fazer? Proibir que engenheiros façam concurso? É óbvio que não. A primeira ação é acabar com a ilusão de rendimentos supervalorizados do funcionarismo público, barrando reajustes e cortando gratificações. Tais valores não são sustentáveis no médio prazo: as contas públicas não suportam gastos crescentes em áreas improdutivas por muito tempo, como as despesas com pessoal. Eticamente e socialmente, não são justos esses gastos. A segunda ação é incentivar o mercado de trabalho do engenheiro. As empresas devem ter um ambiente propício para uma livre competição, com uma legislação clara, um sistema tributário racional e eficiente e um funcionamento pleno das instituições econômicas (como os bancos comerciais, as agências reguladoras e o mercado de capitais). Em especial, o Estado deve procurar uma forma de diminuir as contribuições trabalhistas (com a preocupação de conter o déficit previdenciário). Dessa forma, o mercado será capaz de pagar salários mais atrativos aos engenheiros e o setor público não oferecerá remunerações tão desequilibradas.
A questão dos engenheiros no Brasil não será resolvida do dia para a noite. É de suma importância que haja medidas radicais e reformas profundas para que o problema possa ser combatido. Caso contrário, o desenvolvimento do país ficará gravemente comprometido. O governo Lula está disposto a levar o Brasil a um crescimento sustentável e durável? Pelos últimos 7 anos, é difícil acreditar que sim. Suas atitudes, especialmente em relação aos engenheiros, contradizem o seu discurso demagógico e populista.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Uma crítica aos jornalistas
Um estimado professor uma vez definiu o jornalista econômico: "aquele que apenas vê os fatos, mas não entende de que forma funciona o sistema". A frase é perfeita. O indivíduo pode passar anos lendo índices financeiros, indicadores econômicos e outras estatísticas. Porém, sem uma base teórica por trás, nunca será capaz de realizar uma análise independente de uma opinião mais precisa. Vejamos o caso da Miriam Leitão. É uma jornalista competente, que lê e entende as estatísticas econômicas. A despeito disso, em seus textos, ela sempre procura a ajuda de economistas para embasar suas ideias. Ela não o faz por mera conveniência: é a necessidade. Décadas como uma jornalista especializada em economia não criam um sólido alicerce teórico. Até que haja alguma grande revolução, livros e salas de aula não podem ser substituídos.
O preâmbulo que acabei de escrever tem como motivação a manchete do caderno de economia do jornal "O Globo" do dia 21 de janeiro de 2010. Na reportagem, as jornalistas Martha Beck e Vivian Oswald, devido à completa falta de conhecimento econômico citada anteriormente, cometem um erro capital. Segundo o seu pensamento simplório, "para conter pressão de demanda, plano é reduzir tributos (...)". Assim, as jornalistas, inocentemente, creem que a redução de carga tributária resulta em um alívio na inflação. Para uma criança de 10 anos que lê a reportagem, o raciocínio está OK: menos tributos, menos impacto nos preços. Porém (e é aí que entra a importância da teoria econômica), tal afirmação é um total ABSURDO, pois a redução de tributos é uma medida de expansão fiscal. Sendo assim, a demanda será estimulada e os preços ficarão ainda mais pressionados.
Para quem quiser ler (ou rir), colei parte da reportagem abaixo:
Governo se arma contra inflação
Publicada em 20/01/2010 às 23h50m
O Globo
BRASÍLIA - Apesar do discurso otimista, o governo está se armando para neutralizar pressões inflacionárias que possam comprometer o desempenho da economia em 2010. É o que mostra matéria de Martha Beck e Vivian Oswald, publicada nesta quinta-feira, no GLOBO. Serão usadas, por exemplo, ferramentas tributárias para equilibrar o efeito da demanda aquecida.
Para conter aumentos de preços, o governo tem na manga, a partir de simulações, a possibilidade de mexer nas alíquotas de tributos regulatórios, como a Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
A ampliação da lista de itens que podem ser importados com alíquota zero também está no radar. A manutenção das alíquotas reduzidas de IPI nos produtos beneficiados por desoneração na esteira da crise - como linha branca, carros e móveis - é outra alternativa.
Leia mais: Meirelles:economia brasileira está na melhor posição já vista
Pelas contas da Fazenda, a economia tem condições de crescer 5,2% este ano dentro de um cenário em que a inflação fique no centro da meta, que é de 4,5%. Ainda assim, a ordem dentro do Ministério da Fazenda é agir a todo custo para não dar ao Banco Central (BC) motivos para elevar as taxas de juros e, com isso, puxar o freio de mão do crescimento este ano.
A preocupação do governo é que as expectativas de um aumento muito elevado no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) - alguns economistas falam até em mais de 6% - sejam vistas como uma expansão não sustentada, ou seja, que gera inflação.
Esse foi um dos temas da reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do BC, Henrique Meirelles.
Desde segunda-feira, quando voltou de férias, Mantega tem apresentado ao presidente as estimativas da equipe econômica para o crescimento em 2010, ressaltando que a Fazenda não vê risco de pressão inflacionária para o ano.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Petralhas querem imitar Hugo Chávez
Chávez desvaloriza moeda em 100%
Presidente venezuelano cria dois tipos de câmbio para setores considerados prioritários e não prioritários
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou ontem uma importante reforma financeira que desvalorizou o bolívar forte, a moeda do país, e estabeleceu tipos de câmbio distintos para setores considerados prioritários - como alimentação, habitação, saúde e educação - e não prioritários.
O bolívar forte estava em 2,15 por dólar no câmbio oficial desde 2005. Para negócios que envolvam o setor prioritário, a cotação passou para 2,60 por dólar. Para itens não essenciais - como automóveis, tabaco, bebidas, telecomunicações, produtos químicos, petroquímicos e eletrônicos -, o bolívar será cotado a 4,30, uma desvalorização de 100%.
O câmbio na Venezuela é controlado pelo governo. O país adotou o sistema de câmbio fixo em 2003. Em janeiro de 2008, foram cortados três zeros da antiga moeda, o bolívar. Esta é a quarta desvalorização em sete anos.
Apesar de proibido e punido com pena de prisão e perda dos valores envolvidos, o câmbio paralelo chegou a pagar 7 bolívares fortes por dólar, aumentando os preços e a inflação no país. A simples divulgação da cotação da moeda no câmbio paralelo é considerada crime. Chávez disse que o Banco Central e o governo intervirão no mercado paralelo para evitar a especulação, mas não deu detalhes da estratégia. Chávez afirmou que o controle do câmbio chegou para ficar, pois "os dólares são para o povo e não para comprar carros e uísque".
O presidente informou que as novas taxas entrarão em vigor imediatamente e ressaltou que as as medidas buscam "dar novo impulso à economia produtiva, conter as importações que não são estritamente necessárias e estimular a política de exportação". Após quase cinco anos de crescimento contínuo, a economia venezuelana enfrentou um forte retrocesso no ano passado ao registrar uma queda de 2,9% com relação a 2008.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Inflação e câmbio, uma discussão que não deveria existir
Juros longe da unanimidade
A perspectiva de o governo elevar as taxas de juros em 2010 para conter a inflação traz o receio da enxurrada de capital estrangeiro no país e a sobrevalorização do real, que desestimula as exportações. Economistas abordam os prós e contras da medida.
Quando juros atraem estrangeiros
Perspectiva de alta da Selic em 2010 exige novas medidas para o câmbio
Adriana Diniz, Jornal do Brasil
RIO - A perspectiva de que o governo tenha que aumentar os juros em 2010, para conter uma possível aceleração da inflação, levanta uma questão também importante para a economia brasileira: como evitar a enxurrada de capital estrangeiro no mercado – já que os investimentos no Brasil ficariam mais atrativos com o aumento dos juros – e a consequente queda do dólar? Para alguns economistas, a valorização do real, acende temores a respeito de uma “desindustrialização” do país, já que o dólar barato desestimula as exportações. Para outros, no entanto, o mercado interno é maior e mais importante para a economia.
– Não dá para ter um mesmo volante para dois carros, em estradas diferentes. Ou o governo abandona o câmbio ou abandona a inflação. E controlar a inflação, ou seja, estabilizar a economia interna, é muito mais importante que incentivar as exportações, como mostra o histórico do país – explica o economista Antonio Carlos Porto Gonçalves, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, que acredita que a retirada das desonerações oferecidas pelo governo também seria uma saída para frear o consumo e estabilizar o mercado interno.
Para o professor de Estratégia Financeira, do Ibemec, Hélio França, além do fim dos incentivos fiscais, seria necessário que o governo reduzisse os gastos públicos e anunciasse um aumento mínimo dos juros. “A inflação está sendo pressionada pela alta demanda por bens de consumo e pelo volume de investimentos públicos. Para conter a inflação sem provocar a aumento da cotação do dólar, será necessário que o governo adote uma série de medidas e não simplesmente aumentar a taxa de juros”, explica o economista, que é contra outras medidas que vêm sendo adotadas pelo governo, sem resultado expressivo, como a tributação dos investimentos estrangeiros em renda variável e fixa no Brasil em 2% de IOF.
– O governo comprar dólares também seria uma medida inflacionária, portanto, não aconselhada num momento como esse. Não vai ser tarefa fácil (conter a inflação sem pressionar a queda do dólar).
Segundo o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, o dólar deve caminhar a níveis muito mais baixos com a melhora dos fundamentos da economia no longo prazo. O grau de investimento concedido nos últimos anos pelas principais agências de classificação de risco chancela as reformas realizadas pelo Brasil, que deve ver uma depreciação ainda maior do dólar caso a avaliação fique mais positiva no futuro.
– Taxas de câmbio e juros impensáveis hoje vão se manifestar no futuro – disse Franco, em seminário em São Paulo – É impossível imaginar que, ao deixar de ser o país campeão mundial de juros, a moeda brasileira não vá se fortalecer.
Já o economista Armando Castellar Pinheiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), se mostra otimista: “A expectativa é de que a necessidade de subir juros coincida com a diminuição da liquidez no exterior. Ninguém tem muita certeza de quando seria isso. Mas a diminuição da liquidez no exterior deve compensar um possível aumento na taxa de juros e minimizar as consequências para o câmbio brasileiro”.
Para Mário Faveret, professor da Faculdade de Ciências econômicas da UERJ, o governo brasileiro deveria ser menos conservador e mais transparente em relação à política de juros adotada.
– Se houver uma maior clareza de como o governo irá fixar a taxa de juros, o próprio mercado ajudaria estabelecer juros mais próximos do ideal – afirma o economista.
Com agências
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Ainda sobre a taxa de câmbio
O professor da PUC, José Márcio Camargo, em artigo na IstoÉ, adiciona alguns argumentos ao meu post passado sobre a taxa de câmbio. Em especial, ele aborda o fato de que uma desvalorização cambial provoca um aumento da taxa de juros nominal (que é a taxa real + inflação), o que tende a reduzir os investimentos e o PIB potencial. Imperdível leitura:
Taxa de Câmbio e Bem-Estar Social
Após dois trimestres de queda, a economia brasileira retomou a trajetória de crescimento. O consumo das famílias e os gastos do governo foram os principais motores da retomada. Outros países estão em situação similar (Austrália, Noruega, Coreia, etc.), fazendo com que os Bancos Centrais destes países já comecem a aumentar os juros.
Crescimento maior e taxas de juros mais elevadas significam maior rendimento para os investidores. Com a expectativa de que os Bancos Centrais dos países desenvolvidos irão manter suas taxas de juros próximas a zero por um bom tempo, a busca por rentabilidade está fazendo com que os investidores (empresas e mercado financeiro) direcionem seus recursos para ativos dos países que estão saindo mais cedo da recessão. Como resultado, as moedas destes países, inclusive o real brasileiro, têm se valorizado nos últimos meses em relação ao dólar.
Valorização cambial diminui os preços dos produtos importados e dos produtos que competem com os importados. Produtos como alimentos, automóveis, geladeiras, fogões, máquinas e equipamentos, em suma, os produtos industriais e agrícolas, têm seus preços reduzidos. Preços menores geram aumento da renda real das famílias, diminui o custo e gera aumento do investimento.
Com a queda dos preços, os lucros das empresas produtoras destes bens e os salários de seus trabalhadores também caem, se não em termos absolutos, pelo menos em relação aos lucros e salários daqueles setores produtores de bens que não podem ser importados, como serviços e construção civil. Ou seja, a valorização melhora a situação relativa dos produtores de não comerciáveis (serviços e construção civil), que é a maioria, e piora a situação relativa dos produtores de comerciáveis (indústria e agricultura).
A valorização pode levar empresas que investem pouco e, portanto, não renovam seu estoque de capital e sua tecnologia a se tornar obsoletas. Para estas, a consequência é a falência. Se o número de empresas com estas características é muito grande, a valorização cambial pode levar a uma redução do potencial de crescimento da economia e a um aumento da taxa de desemprego. Mas note que este é o resultado de uma estrutura produtiva ineficiente e com baixa produtividade.
Fatores externos à empresa como infraestrutura inadequada, mão de obra pouco educada, impostos muito altos, excesso de burocracia, etc. aumentam o custo das empresas e são também importantes determinantes de sua capacidade de competir. Nestas condições, uma valorização cambial poderá levar mesmo empresas eficientes a fechar suas portas por falta de competitividade. Mas isto ocorre devido a um ambiente externo pouco amigável que gera ineficiência e baixa produtividade.
Ou seja, valorização cambial é um fator positivo para a economia. A solução para evitar que empresas e setores sejam prejudicados é mais investimento em capital físico e incorporação de novas tecnologias por parte das empresas. Além disso, investimento em capital humano (educação) e infraestrutura, carga tributária menor e reformas microeconômicas que tornem o ambiente externo mais amigável. Manter a taxa de câmbio artificialmente desvalorizada gera pressão inflacionária e aumento dos juros, reduz o incentivo a ganhos de produtividade e diminui os ganhos de bem-estar para a maior parte da sociedade. Melhorar a educação e retomar a agenda de reformas são fatores fundamentais para enfrentar a valorização da moeda.
José Márcio Camargo é professor do departamento de economia da PUC/Rio e economista da Opus Gestão de Recursos
terça-feira, 17 de novembro de 2009
A quem interessa a taxa de câmbio desvalorizada?
É justo uma população inteira custear o enriquecimento de uma parcela ínfima e privilegiada da sociedade? O ministro Mantega acha que sim, haja vista as suas reiteradas declarações de apoio ao setor exportador brasileiro.