sábado, 15 de agosto de 2009

O BNDES e a Agricultura


O título poderia ser "O BNDES e a indústria" ou "O BNDES e o comércio" ou "O BNDES e todos os setores possíveis e imaginários da economia". Ficam para depois. O tema agora é o BNDES e a sua influência negativa na estrutura da agricultura brasileira. Neste post, farei algumas considerações sobre o fator BNDES nas mudanças ocorridas na últimas décadas no setor primário da economia.


Convido o leitor a estudar o gráfico ao lado. Ele mostra o crescimento exponencial dos desembolsos e das aprovações do BNDES na era PeTralha da república. Os números são assustadores. Na comparação da estimativa de 2009 para 2003, o aumento dos desembolsos foi de quase 200%. Sem sombra de dúvida, o BNDES é um dos maiores financiadores a longo prazo do sistema financeiro. O que isso significa? Há claramente um efeito de substituição das entidades privadas pelo BNDES. Ou melhor, como o BNDES atrapalha a livre concorrência do mercado privado de financiamento de longo prazo no Brasil há décadas, na verdade, ocorre o impedimento do seu desenvolvimento . Os empresários estão atados à máquina pública representada por esse banco. Enquanto isso, recursos públicos que poderiam ser melhor utilizados na educação e saúde estão sendo desperdiçados no BNDES.

Os PeTralhas fazem questão de exaltar essa aberração econômica. Mas será que eles têm noção dos efeitos que os créditos baratos e artificiais têm provocado na estrutura da economia agrícola?

Como vocês podem ver na tabela ao lado, no acumulado dos últimos 12 meses, foram quase R$ 6 bilhões em créditos. Quais são as consequências disso para a agricultura? Comecemos por um exemplo simples. Você é um agricultor brasileiro e dispõe de dois recursos: mão-de-obra e capital. O trabalho é abundante e barato. O capital, por ser mais escasso, tem um custo muito elevado. Para plantar o seu pé de soja, você pode usar da forma e quantidade que quiser esses dois recursos. Suponha, e aqui eu excluo os PeTralhas, que você é um indivíduo racional e maximizador de lucros. Como você iria produzir? Com muito capital, um recurso caro? Ou com mais mão-de-obra, um fator mais barato?


Bem, acredito que todos iriam estruturar a produção privilegiando o fator trabalho. Porém, com os bilhões que o BNDES disponibiliza, o capital acaba virando um recurso artificalmente mais barato. Os agricultores passam a produzir intensificando o uso do capital, em detrimento da mão-de-obra. Dois efeitos diretos esse fato provoca: 1) Impacto social. Grandes colheitadeiras e outros maquinários monstruosos empregam uma pequena mão-de-obra qualificada, excluindo uma grande massa de trabalhadores em potencial. 2) Custo alto. O Brasil, um país de trabalho abundante e barato, deveria estar estruturado com uma agricultura intensificadora em mão-de-obra. Ocorrendo o contrário, são elevadíssimos os custos financeiros para que o atual cenário da agricultura artificialmente construído se mantenha. A cada ano, são bilhões de reais despejados na agricultura. Não haveria uma melhor forma de se usar esse dinheiro público?

O BNDES atrapalha duplamente o país. Não obstante a distorção da economia, esse banco drena recursos escassos que poderiam ter um destino mais eficiente. O real desenvolvimento do Brasil depende de como as prioridades são postas à mesa. O BNDES claramente não deve ter o tamanho e a influência de hoje. É tempo de se discutir a validade de sua existência.

PS: para quem se interessar e quiser o ver o tamanho do elefante estatal na agroindústria, sugiro acessar este informe. Como a produção é do próprio banco, não espere uma análise neutra.


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