quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Rindo de Michael E. Porter

Há alguns meses, estive perdendo o meu tempo com um livro qualquer de um autor qualquer. O nome? "Estratégia Competitiva" de Michael E. Porter. Se puder, passe longe dele. É totalmente irrelevante para a teoria econômica. A sua importância é exclusiva para a área da administração. Por que falar dele aqui? Bem, 9 entre 10 economistas PeTralhas veneram esse infeliz. Acho justo compartilhar com as pessoas conscientes as pérolas desse tijolinho.

Confesso que é divertido lê-lo. Já no prefácio, temos a prévia do que vem por aí: "Este livro de Michael E. Porter é o trabalho definitivo sobre o tópico da estratégia competitiva...". Bom, fico imaginando o que o Porter fez durante toda a sua vida. Se isso é a obra definitiva, prefiro nem pensar no que seriam os seus rascunhos.

Porter, ao longo do livro, escreve uma receita de bolo. Três ovos, farinha, manteiga, fermento, açúcar, uma pitada de sal, 30 minutos no forno. Ou se o leitor preferir, um manual de instrução de um vídeo-cassete. Conecte o cabo de alimentação na tomada, configure o relógio, ponha a pilha no controle remoto, ligue na TV. Porter não passa disso. Ele é completamente ateórico. Os seus capítulos são apenas meras onomatopeias do que ele acha sobre os aspectos da competitividade industrial. Se fosse um fotógrafo, Porter conseguiria apenas cobrir festas de casamento e batizados. Não há conteúdo, apenas definições frias e receitas para o "sucesso" das empresas. Porter quase diz: "faça o que eu digo e vire um bilionário!". Mas eu tenho de admitir uma coisa: ele sabe colocar nomes pomposos a coisas bem banais. "Determinantes estruturais da Intensidade da Concorrência". Ufa, quase perdi meu ar. "Sinais de mercado". É a continuação do filme "Sinais"? "Estratégia Competitiva em Indústrias Fragmentadas". Alguém jogou uma bolinha de gude na vidraça de alguma indústria? Paro por aqui. Porter é de fato um cara muito criativo. Pelo menos, para nomear as coisas triviais que ele enxerga.

E qual é o ápice do livro? Sem dúvidas, destaco os seus elogios às políticas estratégicas da GM. São tantos que eu vou transcrever alguns aqui:


"... quando a renda per capita aumentou e muitos consumidores já tinham comprado um carro e estavam pensando em um segundo, o mercado começou a valorizar o estilo, as alterações nos modelos, o conforto e os carros fechados em vez de abertos. Os consumidores estavam dispostos a pagar um pouco mais por essas características. A General Motors posicionou-se prontamente para capitalizar esse desenvolvimento com uma linha completa de modelos."

"... algumas empresas continuamente superam outras em termos de taxa de retorno sobre o capital investido. ... a General Motors tem superado persistentemente a Ford, a Chrysler e a AMC."

"Por exemplo, embora a Ford e a GM tenham estratégias relativamente semelhantes e possam ser classificadas no mesmo grupo estratégico, a escala maior da GM permite-lhe colher algumas vantagens econômicas inerentes à estratégia que a Ford não consegue obter, como em pesquisa e desenvolvimento e nos custos de mudanças de modelos. Empresas como a Ford passaram por cima de barreiras de mobilidades relativas à escala e penetraram em um grupo estratégico, mas ainda suportam algumas desvantagens de custo em relação a uma empresa de porte maior no grupo."

"E a história clássica da ascendência da General Motors sobre a Ford é um exemplo de como as alterações no modelo estimularam a demanda após a saturação do mercado para o automóvel básico."

"Um exemplo de uma companhia que aprendeu a duras penas essa lição foi a Prelude Corporation, cuja meta pretendida era ser a 'General Motors da indústria da lagosta'."

"... as empresas podem reprojetar os produtos visando uma aceitação em muitos mercados, como a General Motors e outras empresas estão fazendo com o 'carro mundial'."

Porter, imagino como que tenha ficado a sua cara depois de ver a falência da sua empresa queridinha. Talvez os executivos da GM esqueceram de ler o seu livro quando iam ao banheiro...

Por incrível que pareça, muitos cursos de economia, essencialmente os PeTralhas como Unicamp e cia, adotam o Porter nas cadeiras de microeconomia e economia industrial (ainda farei um post sobre a falácia da economia industrial - ela não existe). É por isso que vez por outra aparecem Pochmanns, Coutinhos e Mantegas da vida falando abobrinha atrás de abobrinha.



Nenhum comentário: