segunda-feira, 10 de agosto de 2009

As inconsistências econômicas do PT


Começo o post com uma frase do presidente Lula: “O governo tenta fazer o simples, porque o difícil é difícil.”

No dia 17 de junho de 2004, uma plateia atônita presenciou um Lula iluminado na Conferência Nacional do Esporte. O que poderia passar despercebido como mais uma fala abobalhada e infantil do nosso presidente tornou-se mais tarde o retrato exato da sua política ao longo dos últimos 7 anos.

O PeTralha faz o simples. O difícil, deixa para depois. O popular tem a definição disso na ponta da língua: "tapar o sol com a peneira".

O preâmbulo foi apenas para introduzir o pensamento PeTralhista de buscar a solução simples e rápida, em detrimento da certa. O ponto que discutirei aqui será a política de juros do governo PeTralha. Veremos como que o caminho escolhido pelo governo para criticar a elevadíssima taxa Selic foi e continua a ser errado.


Nos anos pré-crise, quando a taxa Selic atingia níveis altíssimos, não era raro escutar PeTralhas como Guido Mantega, ministro da Fazenda, e Marcio Pochmann, presidente do IPEA, reclamando do extremo arrocho monetário. Palavras de Mantega em fevereiro de 2007: "[O Brasil] é como um viciado acostumado a uma dose elevada de droga. De repente você tira, não dá certo." Em dezembro, ele insiste: "... eu não converso porque existe uma divisão de trabalho e essa taxa é assunto do Banco Central, mas posso dizer que os juros dos financiamentos privados já estão caindo depois de subirem em outubro e estamos fazendo todo o esforço para continuar reduzindo essas taxas." Pochmann, como todos os economistas da escola PeTralhista, é outro que não poupa o choro. Em julho recente, suas palavras foram: "A gente acredita que o Brasil ainda pode reduzir a taxa de juros. Desde o início da crise, muitos países estão com as taxas reais negativas (menores que a inflação). Não temos a necessidade de fazer isso, mas não precisamos manter nosso patamar atual".

Caro leitor, o que o discurso dos técnicos da área econômica dos PeTralhas tem em comum? A tecla "reduzir juros" é apertada exaustivamente, como um mantra. Chegou-se a um ponto em que já não é mais necessário entrevistar as autoridades econômicas. Não é mais preciso fazer pesquisas. O povo decorou a resposta. O disco está arranhado. Reduzir juros virou uma anáfora petista. Agora, faço a minha pergunta: o que governo faz para que os juros caiam?

Este é o principal problema que debato aqui. Já sabemos que a PeTralhada luta por juros menores, mas, caro leitor, alguma vez uma autoridade do governo disse exatamente como que vai fazê-lo?

A questão de diminuir a taxa Selic vai muito além da simples canetada e carimbada. O sistema não funciona simplesmente de acordo com o humor do Copom. O comportamento da taxa de juros depende de algumas variáveis, sendo a expansão fiscal uma das suas principais vertentes.


Vejamos o que tem acontecido com as contas públicas. Não obstante a explosão de gastos, como bem disse Rogério Werneck, que listou uma série de absurdos (aumento de gastos com funcionalismo e com benefícios da Previdência Social, renegociação das dívidas dos governos subnacionais com a União, aparelhamento do Banco do Brasil, garantia de que o salário mínimo tenha reajuste igual à taxa real de crescimento do PIB, distribuição de favores fiscais a estados e municípios), o PeTralha Lula concedeu uma sucessão de benesses ao setor privado, ao diminuir a tributação de uma gama de produtos. Somando-se a isso, a recessão da economia tem encolhido ainda mais a entrada de recursos governamentais. O resultado é uma expansão fiscal dos dois lados: aumento dos gastos e diminuição da arrecadação.

Qual é o efeito disso na taxa de juros?

É aí que entra o lado sombrio da história. A expansão fiscal pressiona os juros a patamares elevados. Com ela, não há mágica ou canetada que dê jeito. A sociedade fica atada a esse cenário e sofre as suas consequências: aumento da pobreza, menos investimentos em educação e saúde, fome. A forma sustentável para que os juros caiam é o aumento do superávit primário, o controle dos gastos e uma taxação mais eficiente. Algum PeTralha costuma levantar esses pontos? É claro que não. O custo político de um arrocho fiscal é extremamente alto.

Voltando à frase do Lula no início do post: “O governo tenta fazer o simples, porque o difícil é difícil”. Querer cortar juros na base da canetada e carimbada é muito fácil. O difícil é botar as mãos na massa e combater o principal problema da economia brasileira: a expansão fiscal.

Lembrando B. Russel: para todo problema complicado há uma solução simples, rápida, de baixo custo e... errada.

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